Setembro é o mês das flores. Mas, pelo sétimo ano seguido, muitas flores se anteciparam à chegada da primavera e desabrocharam, ontem à tarde, na 7ª Parada Gay da Bahia. Uma multidão de simpatizantes – da causa, da festa ou de ambas –, estimada em 400 mil pessoas pela Polícia Militar , acompanhou o desfile de gays, lésbicas, transformistas e transexuais pela Avenida Sete de Setembro, Praça Castro Alves e Rua Carlos Gomes, percurso consagrado por velhos carnavais.
E, devidamente familiarizado com o som dos trios elétricos, o povo na rua e astros de variadas grandezas a se exibir lá de cima ou cá embaixo. Ontem, o primeiro a reclamar atenção foi o sociólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB) e “decano do movimento homossexual no Brasil”, informa o mestre de cerimônia da parada.
São 14h53 e o microfone pára em suas mãos: “A Bahia é gaaaaaay!”, berra Mott de cima do trio. O grito é também contra o preconceito. Segundo levantamento feito pelo GGB, já ocorreram 17 assassinatos homofóbicos na Bahia em 2008, um a menos do que em todo o ano passado. Em todo o Brasil, são 122 homicídios no período – foram 155 em 2007.
Atual presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott cobrou a presença do governador Jaques Wagner e do prefeito João Henrique no evento. “Isso já acontece nas principais cidades do mundo.
Esperamos que no ano que vem o governador e o prefeito estejam aqui”.
O governo do Estado, contudo, teve sua representante: a diretorageral do Instituto do Meio Ambiente da Bahia (IMA), Beth Wagner, que subiu no trio e saudou a multidão. Vereadora de Salvador na década de 1980, ela assinou projetos de lei em defesa dos homossexuais.
Padrinho da edição deste ano, o cantor e compositor Gerônimo também deu seu testemunho de apoio: “Muito antes de o mundo ser o que é, o mundo já era gay”, disse. “Se o mundo não é gay, o mundo é triste”.
DIA LIVRE – Contra a tristeza, a alguns metros dali, a transformista Paloma Prado circulava impaciente. A cada passo, uma abordagem: fãs imediatos de sua fantasia “transflor”, que imploramuma foto ao lado da estrela.
“Vamos sair daqui, o povo fica querendo tirar foto”, cochicha no ouvido da amiga Lena Junqueira, também transformista, porém mais paciente. “Hoje é um dia que a gente se sente livre, sem preconceito. É um dia de beleza e fantasia, como uma Escola de Samba do Rio”, resume.
No caminho para o trio elétrico, para deter as duas só um muro de contenção. Na falta de um, serve o ex-pugilista Reginaldo Holyfield. “Deus do céu! Holyfield!”, derrama-se Paloma. Pose para mais uma foto, o eterno arquirival de Luciano Todo-Duro também revela-se um defensor dos homossexuais. “Cada um escolhe o que quer ser e precisa ser respeitado. Estou aqui porque tenho vários amigos gays, que me dão até conselhos”.
ELEIÇÕES – Engajada, a Parada Gay 2008 aproveitou a proximidade das eleições municipais e elegeu como tema o combate à homofobia. No bordão oficial (Homofobia mata – Seu voto vale sua vida), a sugestão do voto em candidatos comprometidos com a defesa dos homossexuais. Por trás do slogan, estão as vítimas de violência sexual que morreram em 2008 na Bahia, (dez gays, seis travestis e uma lésbica, de acordo com o GGB).
A organização do desfile havia anunciado uma manifestação com caixões cobertos por bandeiras pretas, mas não houve o prometido enterro simbólico.
E, apesar do ano eleitoral, a festa não foi prestigiada por muitos políticos. Dos concorrentes à Prefeitura de Salvador, apenas Hilton Coelho (PSOL) deu o ar da graça. Foi recebido tal qual uma celebridade, atendeu a inúmeros pedidos de foto e provocou ataques de histeria.
“As pessoas estão eufóricas com a possibilidade de Salvador mudar”, procurou explicar, depois de se livrar de outro abraço prolongado. Tamanha receptividade acabou numa inesperada homenagem. “Hilton é gay, Hilton é gay que eu sei”, ouviu o candidato.
Sem perder o rebolado.
Por Vitor Pamplona, Jornal A Tarde – 15/9/2008
E, devidamente familiarizado com o som dos trios elétricos, o povo na rua e astros de variadas grandezas a se exibir lá de cima ou cá embaixo. Ontem, o primeiro a reclamar atenção foi o sociólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB) e “decano do movimento homossexual no Brasil”, informa o mestre de cerimônia da parada.
São 14h53 e o microfone pára em suas mãos: “A Bahia é gaaaaaay!”, berra Mott de cima do trio. O grito é também contra o preconceito. Segundo levantamento feito pelo GGB, já ocorreram 17 assassinatos homofóbicos na Bahia em 2008, um a menos do que em todo o ano passado. Em todo o Brasil, são 122 homicídios no período – foram 155 em 2007.
Atual presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott cobrou a presença do governador Jaques Wagner e do prefeito João Henrique no evento. “Isso já acontece nas principais cidades do mundo.
Esperamos que no ano que vem o governador e o prefeito estejam aqui”.
O governo do Estado, contudo, teve sua representante: a diretorageral do Instituto do Meio Ambiente da Bahia (IMA), Beth Wagner, que subiu no trio e saudou a multidão. Vereadora de Salvador na década de 1980, ela assinou projetos de lei em defesa dos homossexuais.
Padrinho da edição deste ano, o cantor e compositor Gerônimo também deu seu testemunho de apoio: “Muito antes de o mundo ser o que é, o mundo já era gay”, disse. “Se o mundo não é gay, o mundo é triste”.
DIA LIVRE – Contra a tristeza, a alguns metros dali, a transformista Paloma Prado circulava impaciente. A cada passo, uma abordagem: fãs imediatos de sua fantasia “transflor”, que imploramuma foto ao lado da estrela.
“Vamos sair daqui, o povo fica querendo tirar foto”, cochicha no ouvido da amiga Lena Junqueira, também transformista, porém mais paciente. “Hoje é um dia que a gente se sente livre, sem preconceito. É um dia de beleza e fantasia, como uma Escola de Samba do Rio”, resume.
No caminho para o trio elétrico, para deter as duas só um muro de contenção. Na falta de um, serve o ex-pugilista Reginaldo Holyfield. “Deus do céu! Holyfield!”, derrama-se Paloma. Pose para mais uma foto, o eterno arquirival de Luciano Todo-Duro também revela-se um defensor dos homossexuais. “Cada um escolhe o que quer ser e precisa ser respeitado. Estou aqui porque tenho vários amigos gays, que me dão até conselhos”.
ELEIÇÕES – Engajada, a Parada Gay 2008 aproveitou a proximidade das eleições municipais e elegeu como tema o combate à homofobia. No bordão oficial (Homofobia mata – Seu voto vale sua vida), a sugestão do voto em candidatos comprometidos com a defesa dos homossexuais. Por trás do slogan, estão as vítimas de violência sexual que morreram em 2008 na Bahia, (dez gays, seis travestis e uma lésbica, de acordo com o GGB).
A organização do desfile havia anunciado uma manifestação com caixões cobertos por bandeiras pretas, mas não houve o prometido enterro simbólico.
E, apesar do ano eleitoral, a festa não foi prestigiada por muitos políticos. Dos concorrentes à Prefeitura de Salvador, apenas Hilton Coelho (PSOL) deu o ar da graça. Foi recebido tal qual uma celebridade, atendeu a inúmeros pedidos de foto e provocou ataques de histeria.
“As pessoas estão eufóricas com a possibilidade de Salvador mudar”, procurou explicar, depois de se livrar de outro abraço prolongado. Tamanha receptividade acabou numa inesperada homenagem. “Hilton é gay, Hilton é gay que eu sei”, ouviu o candidato.
Sem perder o rebolado.
Por Vitor Pamplona, Jornal A Tarde – 15/9/2008
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