Rodoviários abortam greve

Contra a vontade da maioria dos rodoviários presentes, nesta terça-feira, 27, em assembléia no Sindicato dos Eletricitários da Bahia (Sinergia), nas Sete Portas, a direção do Sindicato dos Rodoviários da Bahia aceitou a proposta de reajuste salarial de 5% do patronato e abortou a deflagração da greve. A decisão causou revolta aos cerca de 300 rodoviários presentes no Sinergia, que começaram a tentar agredir o presidente da categoria, Manoel Machado. O líder sindical foi acusado de "pelego" e teve que sair às pressas para evitar um linchamento.


Exaltados e, em alguns casos, visivelmente embriagados, os rodoviários tomaram as Sete Portas, pararam o trânsito por mais de duas horas e protagonizaram cenas de violência. Apedrejaram ônibus, carros particulares, furaram pneus, jogaram pedaços de madeira e vidro no asfalto e trocaram agressões físicas entre si. Um deles chegou a desmaiar depois de ser agredido com um murro no rosto.


Passageiros tiveram que descer dos ônibus e corriam assustados para evitar confrontos. Apesar da confusão, não houve feridos. A Polícia Militar só chegou ao local às 19h30, mais de uma hora após o início do tumulto. A presença dos policiais abrandou em parte os ânimos, mas as brigas seguiram. O tenente Michael, que comandava os 35 agentes presentes, disse que a atuação policial era enérgica no diálogo. "Temos que negociar, senão essa confusão não termina", argumentou.


Apesar da possibilidade de deflagração da greve e conseqüente tumulto, nenhuma viatura da polícia estava próxima ao Sinergia durante a assembléia. À luz do artigo 5º da Constituição Federal, a posterior manifestação desta terça foi ilegal, porque não foi avisada com antecedência às autoridades competentes.


Palanque – Um microônibus que teve os dois pneus da frente furados foi usado como palanque. O ex-diretor sindical Zé Leite, agora na oposição, afirmou que, a partir desta quarta, irá recolher assinaturas, com fins de anular a decisão. O abaixo-assinado seria usado para dar entrada em ação no Ministério Público. Leite disse ainda que a categoria pedirá a destituição dos atuais diretores. As próximas eleições do sindicato ocorrem daqui a um ano e cinco meses.


Empresários e direção sindical acordaram o aumento em âmbitos municipal e intermunicipal. Em Salvador, o reajuste de 5% vai incidir no vale-alimentação e plano de saúde. No resto do Estado, além do aumento, ficou acertado que, durante quatro anos, os empresários não poderão reduzir benefícios da categoria. Inicialmente, os rodoviários reivindicavam 12,34%. Hoje, um motorista ganha R$ 1.020 e um cobrador R$ 600.


A interrupção no tráfego teve início às 18h30 e só terminou às 20h45, depois que um caminhão da SET rebocou o microônibus. O congestionamento causou insatisfação e revolta aos passageiros. A confusão prejudicou a tal ponto a população que muitos usuários optaram por descer dos ônibus e seguiram o caminho a pé até o ponto mais próximo ou para o destino final.


Sacola – Foi o caso de Márcia Alves, 39 anos, que carregava uma pesada sacola plástica e teve que descer do ônibus porque já não agüentava mais esperar. Para conversar com ela, só se fosse acompanhando o ritmo da caminhada. "Estou com pressa, cansada e ainda tenho que enfrentar esta situação horrível. Venho de Pernambués e vou pra minha casa no Barbalho, andando", disse.


Houve bate-boca entre passageiros e manifestantes. Dentro dos ônibus, alguns usuários criticaram a postura de alguns rodoviários de esvaziarem os pneus e quebrarem o retrovisor de um dos veículos. O comerciante Carlos Fernandes, 39 anos desabafou: "Não sou contra a manifestação, mas acho que os rodoviários deveriam programar melhor para não nos prejudicar". Minutos depois, impaciente, seguiu o caminho a pé. Houve ainda quem não estava nos ônibus, mas perdeu dinheiro. "Do tempo em que estou aqui parado, já poderia ter conseguido uns três clientes", disse o taxista Carmelito Passos, preso entre dois ônibus. "Estava com um passageiro, mas ele não quis esperar", disse.


George Brito, do A TARDE (Colaborou Vítor Carmezim, do A TARDE )


Fonte: A Tarde